Parlamento estadual tímido e ruas saudosas: a falta do estilo intenso de Venâncio Fonseca na tribuna da Alese

29/12/2025 às 14:09:18

A ausência do ex-deputado estadual por seis mandatos, Venâncio Fonseca, tem sido cada vez mais percebida pela população na Assembleia Legislativa de Sergipe. A lembrança de seus mandatos, marcados por uma atuação intensa e combativa na tribuna, contrasta fortemente com o momento atual da Alese, em que muitos parlamentares, tanto da base governista quanto da oposição, adotam uma postura excessivamente tímida, passiva e silenciosa. Desde sua despedida do mandato, em 2018, essa ausência passou a alimentar um sentimento crescente de nostalgia entre eleitores e observadores mais atentos da política estadual.

Natural de Boquim, Venâncio Fonseca construiu uma trajetória política sólida, histórica e repleta de desafios no parlamento sergipano, atravessando fases políticas bastante distintas e contextos institucionais complexos. Eleito pela primeira vez em 1990, sob a liderança e influência do irmão, o lendário líder político Cleonâncio Fonseca — que à época ascendia à Câmara Federal —, o então jovem advogado recém-formado iniciou a construção de um caminho próprio, marcado por competência, inteligência política e capacidade de articulação.

O auge dessa trajetória veio em 1994, quando Venâncio se tornou o deputado estadual mais bem votado de Sergipe, ao mesmo tempo em que Cleonâncio Fonseca se consagrava como o deputado federal mais votado do estado. Escolhido por seus pares para presidir a Assembleia Legislativa, Venâncio viveu naquele período o ponto mais alto de sua carreira política. Contudo, na eleição seguinte, após o auge, veio a derrota. Anos depois, o próprio Venâncio reconheceria que o excesso de vaidade diante de tanto poder, ainda muito jovem, contribuiu para aquele revés — episódio que ele mesmo define, com maturidade, como um necessário antídoto contra a arrogância.

Após quatro anos afastado do mandato, Venâncio retornou à Assembleia Legislativa em 2002, após um período de reflexão e autocrítica sobre seus erros e acertos. Regressou em grande estilo, ao lado do governador eleito para o terceiro mandato, João Alves Filho, assumindo a liderança do governo estadual no parlamento. Nesse papel, consolidou-se como um dos principais tribunos de sua geração, destacando-se por defesas firmes, argumentos sólidos e uma retórica afiada na sustentação das ações do Executivo. Enfrentou, em debates duros e qualificados, nomes expressivos da oposição, como Belivaldo Chagas, Francisco Gualberto, Professora Ana Lúcia, Conceição Vieira, entre outros quadros respeitados da política sergipana.

Na eleição seguinte, quando Marcelo Déda derrotou João Alves Filho na disputa pela reeleição ao governo do estado, Venâncio foi novamente eleito deputado estadual. À época, muitos duvidaram de sua capacidade de se adaptar ao papel de oposicionista. O tempo, no entanto, tratou de desmentir essas apostas. Venâncio não apenas se adaptou como se destacou ainda mais, tornando-se um parlamentar de oposição combativo, respeitado e admirado, protagonizando o que muitos consideram uma era de ouro dos debates na Assembleia Legislativa de Sergipe. Conquistou a simpatia de eleitores conservadores e, simultaneamente, o reconhecimento de líderes da base governista, a exemplo do então governador Marcelo Déda, que nunca deixou de reconhecer sua grandeza política, mesmo diante das divergências administrativas.

Afastado do mandato desde 2018, quando optou por não mais disputar eleições, e após quase ter conseguido eleger o irmão Luiz Fonseca deputado estadual em 2022, Venâncio Fonseca segue sendo lembrado nas ruas de Sergipe. Entre eleitores mais conscientes, atentos e independentes na escolha do voto, cresce o desejo de vê-lo novamente ocupando a tribuna da Alese. Aliados do atual governo sentem falta de um parlamentar mais incisivo e tecnicamente preparado para defender as entregas da gestão estadual. Já na oposição, também há o anseio por um ambiente legislativo mais vibrante, com embates de ideias capazes de valorizar o papel do Parlamento. Em um cenário onde discursos muitas vezes ecoam sem resposta no plenário, a ausência de figuras como Venâncio Fonseca evidencia o quanto o Legislativo sergipano perdeu em intensidade, pluralidade e qualidade no debate público.