Denúncia contra prefeita de Aracaju por recebimento de presentes reacende debate sobre ética e uso da imagem institucional

A prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), foi denunciada ao Ministério Público de Sergipe (MPSE) e à Câmara Municipal sob a acusação de ter recebido presentes de lojas locais e promovido essas marcas em suas redes sociais oficiais. A representação, feita pelo comunicador Carlito Neto, sugere que a gestora pode ter ultrapassado os limites do que se espera de uma autoridade pública.
Segundo a denúncia, Emília teria sido presenteada com roupas, joias e acessórios por empresas como Dhillus, Dica Modas e Joalheria Pérola. As publicações nas redes da prefeita, que elogiam os produtos e citam nominalmente as marcas, ocorreram inclusive após sua posse como chefe do Executivo municipal — o que transforma um simples “recebido” em algo muito mais sensível: a associação indevida entre o poder público e interesses comerciais.
Ainda que a prática de receber brindes seja comum no mundo dos influenciadores digitais, é justamente essa confusão de papéis que incomoda. Emília Corrêa não é uma blogueira de moda — é a prefeita da capital sergipana. E a liturgia do cargo exige recato, impessoalidade e responsabilidade com a imagem pública.
Ao expor os “mimos” que recebe de determinadas empresas, a prefeita abre margem para interpretações perigosas: estaria ela usando o prestígio do cargo para beneficiar negócios específicos? Estaria promovendo marcas em troca de favores? A denúncia, portanto, não se baseia apenas nos presentes, mas na simbologia do gesto e no possível conflito de interesses que ele carrega.
O Ministério Público ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, e nem a Prefeitura nem a prefeita ofereceram esclarecimentos à população. O silêncio, nesse contexto, também fala alto — e reforça a percepção de que há algo a esconder.
Este episódio lança luz sobre uma questão maior: até que ponto nossos representantes compreendem o peso e os limites da função pública? Em tempos em que a política se mistura perigosamente com a estética das redes sociais, é urgente lembrar que cargos eletivos não são vitrines para autopromoção, muito menos para endossar vitrines comerciais.
A sociedade aracajuana merece respostas — e, acima de tudo, respeito aos princípios que regem a administração pública. Que o Ministério Público e a Câmara Municipal cumpram o papel que se espera: o de fiscalizar, apurar e, se necessário, responsabilizar.