O comportamento frágil de Ricardo Marques: Quem desiste da própria voz, perde o direito de ser ouvido

Ricardo Marques sempre foi lembrado como um político de pulso firme, verbo afiado e coragem cívica. Na Câmara de Vereadores, era o tipo de parlamentar que não se escondia atrás de conveniências: dizia o que pensava, mesmo que desagradasse. Mas parece que o poder tem dessas ironias — e o vigor que o elegeu, agora, desapareceu diante da força do cargo.
Expulso da gestão pela prefeita Emília Corrêa com direito a reprimenda pública e à degola de seus indicados no Diário Oficial, o vice-prefeito preferiu o silêncio ao enfrentamento. Ao invés de uma reação altiva, digna de quem se sente injustiçado, escolheu o caminho mais frio: o da indecisão. Flerta com o governador Fábio Mitidieri, conversa com Valmir de Francisquinho — o maior adversário do grupo governista — e, entre acenos e silêncios, vai desenhando uma imagem política sem eixo, sem coragem e sem rumo.
Em poucos meses, viu sua autoridade minguar: perdeu espaço nos conselhos municipais, foi alijado das discussões de comunicação institucional e, por fim, teve que engolir a exoneração de aliados e somente a permanência assessores que lhe viraram as costas e agora juram fidelidade exclusiva à prefeita. Um roteiro que, para qualquer político de fibra, seria o limite da dignidade. Mas não para Ricardo.
Enquanto Emília o acusa publicamente de estar mais preocupado com sua política pessoal do que com o coletivo, o vice não reage. Não contesta, não rebate, não explica. Finge que o esvaziamento do seu cargo é mero detalhe, como se ainda houvesse espaço para reconciliação em um grupo que já o descartou.
No xadrez político de Aracaju, Ricardo Marques parece o jogador que teme mover a peça decisiva. O governador o chama para o diálogo, abre portas e oferece nova rota. Mas o vice hesita — talvez por cálculo, talvez por medo — e acaba refém de um grupo que já lhe virou as costas.
Silenciar pode ser estratégia. Mas no caso de Ricardo, soa mais como desistência. E quem desiste da própria voz, cedo ou tarde, perde o direito de ser ouvido.











