Ex-senador publica carta que foi enviada ao Presidente nacional do PSB, antes de mudança no comando estadual do partido
O ex-governador de Sergipe e senador por 3 mandatos consecutivos, Antônio Carlos Valadares (PSB), pública carta que teria enviado ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, onde este expôs a sua preocupação e restrições a mudança no comando estadual da legenda de Miguel Arraes.
No dia de ontem, foi anunciada a filiação do atual vice-governador, Zezinho Sobral, o qual deverá presidir a agremiação a partir de agora.
Segue abaixo, o teor completo da carta enviada a nossa redação por Valadares:
"ANTES DA TOMADA DO PSB, A CARTA DIRIGIDA AO PRESIDENTE DO DIRETÓRIO NACIONAL CARLOS SIQUEIRA"
"Por Antonio Carlos Valadares, 2º Secretário do Diretório Nacional"
"Ao tomar conhecimento de que as negociações entre o presidente nacional do PSB Carlos Siqueira e o governador Fábio Mitidierri estavam avançando para entregar ao governo o diretório regional do partido em Sergipe e indicar o vice-governador e Secretário da Educação Zezinho Sobral para a presidência, resolvi, na qualidade de membro efetivo da Executiva Nacional (2º Secretário), enviar-lhe no dia 09/12/2023 (sábado), uma mensagem nos seguintes termos: "
"Presidente Carlos Siqueira:"
"Como seu companheiro de longa data, militante do PSB há quase 30 anos, e membro do diretório nacional, diante das articulações envolvendo o nosso partido no Estado de Sergipe, sinto-me no dever de fazer-lhe as seguintes ponderações:"
1º) Sou favorável a qualquer entendimento político de nossa agremiação aqui em Sergipe, ou em qualquer parte do Brasil, através do qual venhamos fortalecer as bases do partido e viabilizar a eleição de parlamentares, cujo número de cadeiras, como sabemos, impacta no montante do fundo partidário e do Fundo das Campanhas Eleitorais;
2º) Tais negociações, reafirmo-lhe , são bem vindas, e devem ser tentadas dentro do respeito e consideração que merecem os nossos companheiros e, assim também, a facção partidária que manifestar interesse em compor conosco;
3º) Na minha opinião, o entendimento a ser feito, será melhor quando se mira o crescimento de ambas as partes, porque se acontecer de forma diferente, isto é, somente visando algum crescimento numérico do partido, ao preço de fragilizar lideranças locais, a parte que levar o partido ganha a sigla, mas não leva os votos e a militância do PSB, nem tampouco leva a história de luta daqueles que desfraldaram a bandeira do PSB desde os idos de 1995;
4º) É indiscutível que o PSB de Sergipe, apesar de insucessos em suas últimas eleições combatendo na oposição, teve momentos de glória e enorme desenvoltura, demonstrando nas vitórias e nas derrotas, sua coragem e disposição durante todas as campanhas eleitorais que enfrentou com galhardia e espírito de luta, tornando-se por isso uma referência na política sergipana;
5º) Caso o governador Fábio Mitidierri queira realmente entender-se com o PSB de Sergipe no intuito de fortalecer o seu agrupamento político para as próximas eleições , acho natural, desde que ele procure o atual dirigente regional, que é Valadares Filho, e o convide para uma possível composição político-partidária, sem, no entanto, querer logo de início, impor a indicação de um novo presidente, por mais influente que seja o indicado, sem respeitar o história e o prestígio que hoje desfruta Valadares Filho junto à sociedade sergipana;
6º) Tal proposta, caso venha a se concretizar, seria vista, na prática, como uma intervenção branca no PSB de Sergipe por exigência de um governador integrante de outro partido, que, por sinal, foi nosso adversário, ganhando as eleições para o candidato do PT em aliança com o PSB, e contribuindo decisivamente para a vitória do candidato ao Senado, apoiado por Bolsonaro, deixando Valadares Filho em 2º lugar na disputa.
Como explicar ao povo essa reviravolta na política de Sergipe? Como explicar a oferta que está sendo feita pelo governador, segundo a qual Valadares Filho seria rebaixado para a vice-presidência, enquanto a presidência ficaria com o bloco do governo? Se tal coisa for aceita desse modo por Valadares Filho , ele estaria jogando fora todo o seu capital político adquirido com tanto sacrifício nas campanhas eleitorais que enfrentou;
7º) Tomar o PSB de Sergipe, com o beneplácito da Nacional, seria renegar a história e a importância de suas lideranças. Tal acordo não figuraria, com certeza, como um troféu político para o governo e, sim, como uma tentativa que apequena qualquer negociação, qual seja, a de converter o partido num apêndice a mais entre tantas siglas que orbitam o seu universo político, as quais optaram pelo comando do governo atrás de influência e vantagens do poder;
8°) Infelizmente essa tem sido a conduta da maioria dos partidos no Brasil que passaram a adotar posturas pragmáticas nos seus acordos políticos. A realidade que hoje assistimos é que, não importa a repercussão negativa da conduta, mas o seu resultado, mesmo que o partido venha ocupar o lugar comum de tantos outros, como os do Centrão, que lutam desesperadamente para aumentar suas bancadas e suas finanças, tornando letra morta a sua pregação doutrinária e as regras previstas no seu estatuto.
A propósito, foi para esse fim que o PSB debateu e aprovou a Autorreforma na qual proclamou estar agindo diferente dos demais partidos?
9º) Os votos que Valadares Filho teve para o Senado serviram para demonstrar que o PSB de Sergipe está vivo, ficando em 2º lugar entre 4 fortes candidatos;
10°) Portanto, presidente, creio que uma negociação respeitosa, seria enaltecida por muitos sergipanos que simpatizam com o PSB, podendo contribuir, substancialmente, para seu fortalecimento . No entanto, a substituição pura e simples do comando do PSB por um outro comando com raizes no governo, o PSB por certo não será o mesmo partido, e perderá a sua identidade histórica, cuja luta está ainda arraigada na memória do povo em tantas eleições, ao lado de Eduardo Campos, Arraes, Lula e Déda, muitas vezes contanto com o seu entusiástico apoio;
Reitero que, caso seja confirmada a entrega do partido ao governador Fábio Mitidiere, sem o consentimento da direção regional, ou desprezando a sua importância no contexto da política local, não será bom para o governo estadual, nem para o PSB que, infelizmente, passará a ser apenas mais um satélite da formação governista, sem nenhuma importância nem influência nas decisões locais.
Aracaju, 30 de novembro de 2023
Antonio Carlos Valadares
2º Secretário do Diretório Nacional