A metamorfose de Bolsonaro: negligenciou mortes em nome da economia, agora chantageia a nação para salvar a si mesmo.

19/07/2025 às 18:45:36

| Por Flavão Fraga 

 

Durante a pandemia de Covid-19, Jair Bolsonaro repetia como um mantra que “a economia não podia parar”. Desdenhava do vírus, minimizava o número de mortos e chamava a doença de “gripezinha”, enquanto atacava medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos. Para ele, o país deveria seguir funcionando, mesmo que isso custasse milhares de vidas. O argumento? Salvar a economia.

Agora, diante da possibilidade de ser responsabilizado criminalmente por arquitetar um plano de golpe de Estado, Bolsonaro adota uma postura diametralmente oposta: ameaça a estabilidade nacional e age como sabotador da própria pátria. O mesmo que dizia defender Deus, pátria e família, hoje atua movido por um egoísmo brutal que fere os princípios da solidariedade cristã e atenta contra a soberania nacional. Utiliza outro país — os Estados Unidos — como base de chantagem política, buscando apoio externo para tentar travar os mecanismos legítimos da Justiça brasileira, tudo para proteger seus próprios interesses e os de sua família.

Declarações recentes de aliados e familiares, como o deputado Eduardo Bolsonaro, escancaram esse novo projeto de destruição: se o ex-presidente for punido, haverá retaliação. Retaliação contra quem? Contra o próprio Brasil. O mesmo país que ele jurava defender. Os mesmos cidadãos que dizia querer proteger do desemprego agora viram reféns de uma chantagem pessoal.

Mas talvez o mais estarrecedor de tudo isso seja testemunhar parte significativa da população embarcando nesse mesmo jogo. A cada nova narrativa criada pelo clã Bolsonaro, há um contorcionismo retórico por parte de seus apoiadores para justificar o injustificável. Ontem, defenderam o fim do isolamento em nome da economia. Hoje, aceitam sabotagens à economia em nome de um homem. A coerência se perde, e o fanatismo se impõe.

A lógica é perversa, mas coerente com o bolsonarismo: o Brasil só interessa enquanto instrumento de poder pessoal. Quando convém, levanta-se a bandeira da economia. Quando não, ameaça-se o país com colapso institucional, crise internacional e sabotagem econômica.

Na pandemia, Bolsonaro desprezou as vidas em nome do PIB. Agora, abandona o PIB em nome da própria pele. Essa transição revela quem ele realmente é: não um patriota, mas um personagem disposto a colocar a nação inteira em risco para escapar da Justiça.

É urgente que a sociedade e as instituições não se deixem chantagear. A democracia e a estabilidade do Brasil valem mais do que os caprichos de um homem — sobretudo um homem que se revelou incapaz de amar verdadeiramente a pátria que tanto usou como retórica.